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Foto do escritorStefany Nunes

Cena extra: Benjamin e Bella

Londres, janeiro de 2046

Benjamin


“Londres, 16 de janeiro de 1843

Querido Benjamin, 

Sua linda Melissa passou por aqui meses atrás e levou as cartas que eu escrevia para você. 

Danadinha… pergunto-me a quem ela puxou.

Ela me deixou um presente no lugar: notícias suas, que leio ao menos uma vez por semana, toda vez que a saudade aperta. Estou tão feliz por saber que encontrou sua felicidade, querido. Pela chance de ter conhecido Lily e abraçá-la.

Ela é tão parecida com você, Benjamin. Tão… maravilhosa e amável. 

Ah, como eu sinto sua falta, meu irmão. Os anos passam mesmo muito depressa, veja onde estamos, com filhos criados e vivendo suas vidas como bem entendem. O que me lembra de que agora você é um sogro! (Bart foi embora com ela, não foi?). Apenas imagino vendo-o sua linda princesinha se apaixonando. 

Meus olhos estão úmidos de emoção, é como se eu conseguisse vê-los em minha frente, você com a expressão emburrada. 

Mas não quero chorar hoje, pois tenho boas notícias.

Os últimos meses foram agitados. Você pode não acreditar em mim, mas nosso irmão Barney quase me matou do coração. 

Ele teve um filho, Benjamin! 

Não, deixe-me contar a história direito: Barney se casou em Kent em 1815, na época em que estava servindo ao exército. O nome dela era Michelle e eles estavam apaixonados. Tanto que decidiram se casar às pressas para aproveitar todo o tempo que pudessem. 

E eles tiveram um bebê, Ben! Logan é o nome dele, meu sobrinho maravilhoso que me conquistou desde o primeiro instante.

E agora, ele é finalmente o Duque de Waldorf. 

Depois que quase desmaiei e derrubei algumas lágrimas, Logan me contou sua história na sala de nossa casa em Bath. Michelle morreu no parto e o avô, com medo de perdê-lo, decidiu criá-lo longe de nossa família. Foi somente no leito de morte do homem que ele confessou tudo a Logan, que então procurou pelos Waldorfs e nos encontrou, disposto a assumir o título.

Gustave deu um trabalho e tanto para o garoto, mas ele foi muito corajoso e honrado. Um filho de Barney, de fato. No mês passado, após uma sessão no Parlamento, Logan conseguiu reaver o título e assumir o sobrenome do pai.

Mas isso nem é o que me deixa mais feliz, querido. 

Adivinhe? Logan se casou ontem com Claire, a filha mais velha de Flavian e Violet. Eles se amam desesperadamente e agora são casados! Isso não é maravilhoso?

Jack e eu estamos sorrindo tanto que nossas bochechas chegam a doer no fim do dia. 

A vida foi generosa conosco, meu irmão. Estamos todos muito felizes. 

Agora, vou acompanhar nosso sobrinho e continuar contando a ele a história de nossa família. Vou ficar orgulhosa por vê-lo administrar o ducado que sempre lhe pertenceu por direito e por ser feliz ao lado da mulher que ele ama (que todos amamos, aquela menina é um tesouro). 

Se um dia o destino permitir que essa carta chegue a você de novo, eu espero que as palavras aqui escritas o tenham feito sorrir. 

Ah! Antes que eu me esqueça, preciso lhe contar: meu caçula Barney decidiu lutar boxe. Boxe, Benjamin! Após uma desilusão amorosa, acredita?

Puxou ao pai, aquele pestinha. Quem diria? 

Com amor, 

Abby Spencer.”


Deitado no sofá da sala de estar, fungo baixo, tentando não acordar ninguém. Duke está aqui ao meu lado, com as orelhas atentas como se ele não fosse um senhor da terceira idade. 

Abaixo o papel que seguro e suspiro. Sempre fico emotivo quando leio as cartas de Abby. É impossível não chorar, pois é como se eu conseguisse ouvir cada palavrinha dela em sua voz doce. 

Ontem, eu estava com insônia após descobrir sobre os segredos de meu irmão Barney e passei horas pesquisando a respeito de meu sobrinho Logan, de Claire e do legado que o Duque e a Duquesa de Waldorf construíram. Fiquei tão orgulhoso com o que encontrei que chorei de novo, emocionado.

— Ben? 

Paro de encarar o nada e sorrio ao ver Isabella no fim do corredor. 

— Olá, meu amor — digo, sem me mexer. 

— Insônia de novo? — Ela esfrega os olhos e se aproxima. 

— Estou agitado demais com essa história toda. 

Bella sorri e eu me sento, dando espaço para que ela se acomode ao meu lado. 

— Fez pesquisas hoje? 

— Não ainda. Nem sei por onde começar, é muita informação nova.

Ela assente, pegando o laptop que está por perto e o colocando sobre o colo. 

— Quer saber mais sobre Logan e Claire?

— Passei a noite toda ontem lendo sobre eles.

— Hum, certo. Então que tal pesquisarmos sobre os filhos de Abby? — ela sugere. 

Concordo, porque é uma boa ideia. Assim como eu, Abigail e Jack tiveram três filhos: Melissa, Benjamin e Barney, a que todos chamam de Baz. Eu já havia pesquisado sobre eles rapidamente quando Lily retornou do passado.

Melissa se casou primeiro. Benjamin se tornou o Duque de Derbyshire quando já era um senhorzinho, e Baz… eu jamais imaginaria que ele seria o famoso Trovão lutador (o mesmo que pensávamos ser Bart, hoje meu genro.)

— Vamos começar com o caçula — digo. 

Bella digita rapidamente e encaramos os resultados das pesquisas na tela. 

— Abby estava preocupada em uma das cartas, dizendo que ele iria começar a lutar. 

— Bem, já sabemos que ele teve êxito nas lutas — minha esposa comenta. Ela desliza o dedo movendo a tela para baixo, devagar. Dou um beijo em seu ombro nu enquanto acompanho o movimento, atento às palavras. 

— O que é isso? — Aponto para o quarto link. 

— Hum, me parece um diário — ela clica. 

Realmente, a imagem que vemos ali é uma foto da página de um diário. Um que foi escrito por Baz, por volta de 1845. 

— Consegue entender o que está escrito? — Bella dá zoom. 

Eu me inclino atrás dela e aperto os olhos para as palavras em caligrafia rebuscada.

Com calma, começo a narrar as aventuras de Baz Spencer e do que aquele garoto aprontou em seu tempo. 

— Jesus Cristo, esse aí puxou mesmo a Jack — comento, muito tempo depois, quando Bella deixa o laptop de lado. 

— Oun, mas ele era um romântico. 

Encaro-a com uma sobrancelha erguida. 

— Um devasso romântico, você quer dizer. O moleque era terrivelmente terrível. 

— Mas o que importa é o final da jornada do mocinho, por mais libertino que ele seja. — Ela me provoca. — Por Deus, homem! Depois de tantos anos casado com uma escritora, você ainda não aprendeu? 

Eu a puxo para um beijo demorado, sussurrando:

— Aprendi muito bem, meu amor. Mas, se quiser me dar uma lição, não vou reclamar — pisco. 

Sorrindo, minha linda esposa pega em minha mão e me guia para o quarto, onde fechamos a porta.

E então, usando minhas botas de montaria de sempre, eu me recordo que ser um libertino apaixonado é mesmo o melhor dos finais. 

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